Quando falamos sobre os movimentos de mulheres estamos falando também sobre a diversidade de pautas, demandas, necessidades, de detalhes, de características. O mapeamento da Plataforma UNA mostra essa realidade, que foi destrinchada ao longo do processo de construção da plataforma a partir de uma linha central: o boom aparente no surgimento de organizações e iniciativas observado principalmente a partir de 2010 no conjunto de 388 cadastros realizados na plataforma e que culminou no encontro com as protagonistas e pesquisadoras por meio de rodas de conversas e entrevistas realizadas no 2ª semestre de 2017. Convidamos você a mergulhar nesse universo, que é diverso mas tem um grande ponto de convergência: a luta pelos direitos das mulheres.
E quem são as caras desta luta? Inúmeras mulheres, e homens também, que se juntaram e conceberam organizações e iniciativas buscando garantir os direitos das mulheres, melhorar a vida em sociedade, contudo, valorizando suas demandas específicas. Neste ponto, o relatório traz um grande questionamento: como trazer resultados efetivos dos movimentos de mulheres reconhecendo os como plurais e diversos? Ao mesmo tempo em que as pautas estão, por vezes, fragmentadas, é por meio dessa diversidade que é possível se enxergar além das necessidades, com entendimento sobre a realidade das mulheres.
Nesse caminho, o feminismo negro é apontado como uma força que sustentou, transformou e continua sustentando e transformando o feminismo no Brasil, além de ser motivo de inspiração para diversas outras frentes do movimento. O protagonismo da juventude negra é apontado como a grande força da juventude brasileira, que busca ocupar todos os espaços possíveis e fortalecer sua identidade.
Ainda quando falamos em juventude, o relatório traz algumas informações sobre os desafios nas relações entre estas jovens mulheres com aquelas que já estão há mais tempo na estrada e se estruturaram como organizações da sociedade civil. No entanto, para além do conflito intergeracional parece existir um espaço inédito para o diálogo reforçado pelos novos meios de comunicação.
Quando falamos em resultados desta primeira imagem do ecossistema há um consenso: o uso de novas tecnologias, com destaque para as redes sociais, pode impactar um número cada vez maior de pessoas. Surgiu no levantamento a importância de se apropriar desses com o propósito de disseminar as diferentes pautas do movimento de mulheres. Contudo, a formação de “bolhas” nas mídias sociais pode dificultar esse processo, fazendo com que a conversa aconteça apenas com pessoas que já compactuam com os discursos defendidos. Como transpassar esta barreira?
Para além destes espaços virtuais, há um grande desafio que se perpetua quando falamos sobre a questão de gênero: como os espaços virtuais se conectam com a falta de mulheres nos espaços de poder? E como isso se reflete nas novas lideranças que queiram ocupar essas lacunas? Alguns vozes escutadas no levantamento afirmam que só haverá uma mudança efetiva quando as próprias mulheres forem responsáveis pela criação de leis e políticas públicas voltadas a elas. Houve um avanço nos últimos anos em relação à participação das mulheres nas leis e políticas públicas com uma contribuição relevante das mulheres de classes populares que se mobilizaram pela aprovação de pautas e agora lutam para que não haja retrocessos.
Com esta breve introdução, convidamos você a explorar o relatório completo da nossa jornada e trazer as suas contribuições para, juntas, cocriarmos essa nova visão de território dentro do ecossistema de iniciativas de empoderamento de mulheres e equidade de gênero.
“Nunca se esqueça que basta uma crise política, econômica ou religiosa para que os direitos das mulheres sejam questionados. Esses direitos não são permanentes. Você terá que manter-se vigilante durante toda a sua vida” Simone Beauvoir.